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Poesia de Alberto Caeiro

Se eu morrer novo, Não desejei senão estar ao sol ou à chuva,
sem poder publicar livro nenhum, Ao sol quando havia sol
Sem ver a cara que têm os meus versos E à chuva quando estava chovendo
Em letra impressa, (E nunca a outra coisa),
Peço que, se se quiserem ralar por minha causa, Sentir calor e frio e vento,
Que não se ralem. E não ir mais longe.
Se assim aconteceu, assim está certo. .
. Uma vez amei, julguei que me amariam,
Mesmo que os meus versos nunca sejam impressos, Mas não fui amado.
Eles lá terão a sua beleza, se forem belos. Não fui amado pela única grande razão -
Mas eles não podem ser belos e ficar por imprimir, Porque não tinha que ser.
Porque as raízes podem estar debaixo da terra .
Mas as flores florescem ao ar livre e à vista. Consolei-me voltando ao sol e à chuva,
Tem que ser assim por força. Nada o pode impedir. E sentando-me outra vez à porta de casa.
. Os campos, afinal,
Se eu morrer muito novo, oiçam isto: não são tão verdes para os que são amados
Nunca fui senão uma criança que brincava. Como para os que não são.
Fui gentio como o sol e a água, Sentir é estar distraído.
De uma religião universal que só os homens não têm. .
Fui feliz porque não pedi coisa nenhuma, Quando vier a Primavera, se eu já estiver morto,
Nem procurei achar nada, As flores florirão da mesma maneira, e as árvores,
Nem achei que houvesse mais explicação Não serão menos verdes que na Primavera passada.
Que a palavra explicação não ter sentido nenhum. A realidade não precisa de mim.

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